segunda-feira, 28 de março de 2011

Ganchos, Backgrounds Interligados e... Tidus.

O uso do termo "colocar ganchos" na criação de um background de personagem parece ser completamente alienígena pra mim. Eu acho que npcs e localidades, assim como eventos podem ter ganchos, mas personagens jogadores? Nunca deveriam!

Antes que você fale “ué, o Lumine endoidou de vez, de novo?”, analise comigo.

Os personagens são os principais da história; eles não precisam ser "fisgados" pelo mestre pra histórias, porque (em teoria, pelo menos), uma boa partida / campanha tem toda a história sobre eles.

Fez sentido? Ok, podemos elaborar mais um pouco.

Mesmo com toda tecnologia moderna jogo de videogame, até agora a experiência criada num jogo eletrônico terá que evoluir ao ponto de oferecer uma experiência verdadeiramente individual para cada jogador distinto, quem dirá um grupo de 3-6 jogadores de forma simultânea.

O elemento humano também, onipresente numa mesa mas supérfluo em jogos eletrônico online e tudo mais me faz imaginar: é assim mesmo?

Então, um jogo eletrônico pode misturar a história de todos personagens do grupo em algo interligado e semi coeso:

O leão antropomorfico caladão é guardião da invocadora talentosa,
que também é protegida pela maga gostosa. Essa maga era noiva do irmão do esportista retardado funcional, que odeia uma etnia de humanos, mas não sabe que sua companheira, a ladra hiperativa que é prima da invocadora talentosa com síndrome de diálogo de Shatner é dessa etnia! Essa mesma invocadora é apaixonada pelo jogador chorão de asfixia-autoerótica-ball que é apadrinhado pelo maior badass do mundo, coincidentemente, o tio adotivo da invocadora shatneresca, cujo outro tio adotivo é o centro do monstro grandão que é a ameaça ao mundo... que é pai do jogador chorão, melhor amigo do pai da invocadora talentosa, cujo ultimo ato antes de falecer foi deixar ... o leão antropomórfico caladão responsável como guardião da invocadora tímida!

9 personagens e diversas relações entre eles.


Se você não reconheceu, isso foi uma descrição de FFX e não uma novela mexicana,
Qualquer motivo pra postar o Tidus com uma cara feia, eu o farei!

E no RPG de mesa? Bem, quantas vezes você já viu numa mesa onde todos personagens possam ter um background com pontos em comum interligados (seja ele um tio, um conhecido, um parente, ou mesmo uma ligação com o vilão) servir como motivo para esses caras andarem juntos? Poucas vezes? Nenhuma? Comum?

Depende de cada mesa, mas normalmente, isso é esquecido em viés do individualismo da criação. Ao invés de ter o guerreiro humano que veio das clichês montanhas gélidas do norte e o mago meio-elfo que veio do deserto do oeste, poderemos ter esse mesmo guerreiro que conheceu o mago na infância e se mudou com os pais teria um motivo desses dois caras andarem juntos.

E se o vilão matou o outro colega de infância deles, um halfling? De repente, dois caras que não tem mais nada a ver, podem se juntar novamente depois de anos, cada um com novos companheiros e zás, temos um motivo para um guerreiro humano, um mago meio-elfo, um clérigo dragonborn (amigo do humano) e uma deva ladina (consorte do meio-elfo) andarem juntos.

Se os personagens tem ganchos, eles não estarão sendo fisgados: eles estão fisgando história pra si.

Tudo muito bonito e bem ordenado até aí.

...e se um novo jogador entrar na mesa, como faremos para que esse grupo coeso ganhe um novo integrante? Essa é um dos maiores problemas de se interligar backgrounds no começo de uma campanha.

Tem sempre a alternativa de enfiar o novo jogador sem motivo, mas... e se?

Pense no seu grupo de amigos (o fora do jogo, no caso), como novas pessoas são adicionadas a ele? Você conhece alguém e passa a levar ao seu círculo social? Um amigo em comum entre dois ou mais amigos passa a frequentar suas rodas e programas? Ou simplesmente é uma pessoa nova que você conheceu e que divide os mesmos interesses que você? Ou mesmo um desconhecido total que foi com a sua cara e quer conhecer você (segunda intenções não obrigatoriamente inclusas!)?

Se você não for Forever Alone, todas respostas podem ter um “ei, poderia ser assim”. E seria diferente na mesa? Claro que poderia, mas pra que forçar se podemos explicar?

Podemos pensar que o novo jogador, que jogará com um monge eladrin, é um conhecido da deva de outras viagens e seu conhecimento do local pode ser benéfico ao grupo; acaba adquirindo uma amizade / companheirismo / baitolagem absoluta e vai com esses caras.

Ou então, ele é contratado como guia, e decide ir com o grupo. Ou mesmo um monge que como parte do treinamento decide se unir ao grupo, já que as dificuldades trarão o caminho para sua iluminação.

O que importa é, com um pouco de criatividade, você pode encaixar qualquer situação. Até mesmo um demônio que trabalha com burocracia nos nove infernos poderia entrar nesse grupo, com a desculpa certa. Vai ver o vilão deve a contabilidade infernal, e a forma mais fácil dele derrubar esse cara do poder é se aliando a um grupo de heróis, desde que ele consiga segurar seus impulsos burocráticos e partir para ação.

Na dúvida, pense da mesma forma que eu comecei o exemplo ali em cima: “Mesmo sendo inútil, como o Kihmari faz parte desse grupo?” e construa a relações ao redor dele. No caso, algo como mais "Ok, mas porque eu andaria com esse monte de gente esquisita?".