Na ultima postagem eu falei sobre o guerreiro, mas segundo o retorno, acabei me focando demais no aspecto 3ª edição, ao invés de fazer o proposto. Cá estou aqui tentando realizar a postagem em sequência, de forma a fazer o proposto, que é analisar a origem e a evolução da classe escolhida pelas edições de D&D.
A origem do arquétipo do Mago
O mago é o lançador de magias arcano, usando poderes mágicos para criar efeitos instantâneos ou duradouros. Ao contrário do arquétipo do guerreiro que mistura todos os tipos de guerreiro e não tem realmente uma identidade coesa, o mago é o oposto.
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| Só que ao invés de Coração, adicione "Controle sobre a Realidade" | 
Ele pega os aspectos de magos de mitologias, lendas, quadrinhos, livros e histórias. Merlin, Circe, Medea, Dr. Estranho, Baba Yaga, Gandalf, Abe no Seimei, Djinns, Prospero, Morgan Le Fay, Kitsunes, a fada Madrinha da Cinderella, entre dois porrilhões outros de arquétipos que fazem magia e os mistura de uma forma louca com um sistema do tipo lance-e-esqueça copiado dos livros de Jack Vance (a série A agonia da Terra / Dying Earth).
Então, quais aspectos desses magos fictícios fazem o mago de D&D ser assustador como classe singular? Simples! Todos os aspectos de todos conjuradores ao mesmo tempo, sob escolha do jogador.  
A dominação do Mago, e sua origem
Tudo começou naquele jogo de 1976 (tradução livre minha):
“Magic-User (Usuários de magia) são talvez os personagens mais poderosos do jogo, mas é um caminho longo e árduo ao topo, e eles começam fracos. A sobrevivência até lá é que é o problema, a menos que Guerreiros protejam o Magic-User até que eles tenham se desenvolvido” – Gary Gygax, Dave Arneson (D&D 1e, Volume 1: Men and Magic)
Mike Mearls (sempre ele, né?) faz um comentário pertinente em sua coluna Legends and Lore.
“Um Magic-User tinha os piores pontos de vida e pior CA. Até o 3º nível ou mais, um único ataque poderia matar um mago (como o exemplo infame do mago morto por um gato comum). Um duelo entre dois conjuradores, mesmo de nível moderado era quem disparasse a primeira magia de dano de nível alto. De algumas formas, jogar com um mago era como optar pelo ‘Modo Difícil’.” – Mike Mearls
Começar a jogar com mago foi o equivalente ao “modo difícil”? Com certeza. Não estou falando de jogos que querem emular Old School e o fazem tolhendo aspectos, e sim do 1e original. A diferença é gritante: jogar no estilo chute a porta numa dungeon Gygaxiana é pedir pra morrer, porque tudo LITERALMENTE conspira pra te matar.
Considerando que perder um personagem na 1e significava começar de 1º nível (essas noções de voltar “ao nível do grupo” era inexistentes na época quando a tubaína era com rolha), recompensar um jogador que sobreviveu com um inútil por 10 níveis era algo “legal”. E aí, o cara com 10+ níveis de mago começa a ter o poder crescente que faz a realidade se curvar a ele. 
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| Não que isso pudesse dar errado. | 
Dar as recompensas do 'Player Must Die' no modo fácil?
O problema é que o jogo mudou. Nas palavras do Snake: “War has changed”.
Imagine a situação. O jogador usa um pé de cabra e abre a boca da estátua do Deus-Mosca, Brunderfly. Na 1e? Você não só morre como mata o resto do grupo de brinde pelos vapores venenosos. Sem testes, sem choro. Burro.
Em AD&D, o paradigma é mais brando. Receberia um Teste de Resistência (ou “Jogada de Proteção” se você for velho) contra veneno / paralisia / morte e cairia debilitado no chão. Em duas rodadas você morria se não recebesse uma cura mágica.
Na 3e, você teria um Teste de Resistência de Fortitude para evitar ser envenenado, e mesmo se falhar receberia dano nos atributos; perigoso e certamente sacana com o jogador, mas não morte automática.
(para fins de comparação, na 4e, você faz uma jogada da armadilha contra sua defesa de Fortitude para evitar receber um efeito de Dano Contínuo. Se o mestre for sacana o veneno faz perder 1 Pulso de Cura.)
Agora, se o jogo não é tão letal como antes, o mago ainda tem a mesma progressão? Tradição? Não sei. Mas em time que ganha, não se mexe.
Mesmo que seja uma classe com mentalidade “modo difícil, então compensa ser poderoso mais tarde”, existiam formas de tentar simular uma curva de poder mais difícil de ser alcançada, mas normalmente eram meros empecilhos entre o mago e a dominação do Multiverso.
Em AD&D, magos tinham de XP diferenciado para que magos subissem de nível “mais devagar que as outras classes”, de forma a compensar isso.  Na prática, isso não era de diferença relevante se o grupo recebe XP como é descrito no livro (1 XP para cada 1 PO de tesouro) além dos oferecidos por monstros derrotados. 
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| Alguém lembra quando o Kuririn era mais forte que Goku? Todos os 3 episódios? É a mesma coisa com Guerreiros e Magos.  | 
A divisão é mínima, e o mago ainda sobe de nível, em média 1 nível (ou menos que isso) do grupo.
O problema real aqui é que D&D tornou-se um jogo que recompensa o Domínio das Regras; Monte Cook, um dos designers da 3ª edição de D&D fala isso no seu próprio blog, no polêmico artigo “Ivory Tower Design”, talvez o primeiro artigo onde um dos desenvolvedores do jogo fala abertamente sobre isso.
“A idéia é que o jogo dê as regras e que os jogadores descubram os altos e baixos sozinhos – jogadores que são recompensados por dominarem as regras e fazerem boas escolhas ao invés de escolhas ruins.”
Mas isso pode ser expandido em outra postagem, a parte 2. Acabou que eu falei do contexto e poderes por alto, mas não o que faz a classe ser o que é. Assustadora nas mãos de um jogador criativo.
Esclarecimento pós-post: Antes que algum gênio venha nos comentários dizer que eu não pesquisei, as tabelas citadas de AD&D foram verificadas de novo, e minha memória não me traiu; o mago só fica um nível atrás do guerreiro recebendo o mesmo XP (como grupo), e a diferença só se torna “gritante” depois do 15º nível. E por gritante, quero dizer “um nível e meio”.




Mesmo assim você topa jogar 3.5 com um maluco, um overpower e um cara que não tenho nem como descrever, máximo que posso supor que é um maluco (como jogador).
ResponderExcluirEle gosta de d&d. Ele lê tudo de tormenta.
ResponderExcluirEnfim, ele gosta de sofrer.
No mais, o artigo tá bacana